Polêmicas Tecnológicas – Vendendo Pudim
Estamos inciando uma nova série entitulada Polêmicas Tenológicas, que descreve alguns fatos pouco divulgados (E polêmicos) do lado comercial do mercado de tecnologia, em especial no Brasil.
Não são cópias de artigos publicados no exterior e nem um condensado de planos de negócios que são camuflados como a “nova invenção da roda”.
Nesse primeiro artigo vamos transcrever uma apresentação que sempre faz muito sucesso, que virou um trecho de um post desse blog e agora ganhou corpo para ser um artigo próprio.
Vendendo Pudim
Vamos começar contando um caso verídico que aconteceu durante o almoço com colegas. Ao final da refeição o dono do restaurante sugeriu um pudim, e uma das pessoas na mesa já reclamou do preço do pudim nesse restaurante, e que achava um absurdo cobrar caro por somente ovo, açúcar e leite condensado…
O dono, que também é chef de cozinha, disse que traria o pudim, e que se não fosse bom, ou que se alguém na mesa não gostasse, não seria necessário pagar pelos pudins. Logicamente quem reclamou foi o primeiro a aceitar o desafio!
O final da história foi de que o pudim realmente era sensacional (Um dos melhores que comi na minha vida, por sinal) e o reclamão admitiu que era muito bom e pagou aquele valor que ele achava absurdo. Perguntei depois ao chef qual era o grande segredo do pudim, e ele disse com a maior simplicidade de que é 20% ingredientes e 80% receita e experiência de quem prepara o pudim.
Traduzindo: 20% hardware e 80% software e melhores práticas!
O Marketing de Ingrediente
Uma certa empresa fabricante de processadores de computador introduziu no final do século passado uma estratégia de marketing em que dizia que o processador dentro do computador é a garantia de melhor experiência, felicidade absoluta e inteligência superior. É o “Marketing de Ingrediente”. No caso de um PC, não importava qual sistema operacional, aplicação ou periférico: O que importava é o processador!!! É como dizer que a qualidade do seu sangue dirá quem você é…
Já nesse século, um fabricante de computadores diz a todos os cantos que o valor de uma solução de TI está na aplicação. Sim esse fabricante está certo! O mais engraçado é que esse fabricante não oferece nada nas camadas superiores além do hardware e “hypervisor” (Virtualizador), como sistema operacional, banco de dados, servidor de aplicação e a própria aplicação.
Como você escolhe os seus produtos de tecnologia?
Você escolhe seu smartphone ou console de videogame dessa maneira?
Smartphone com processador Octa-core (4x 1.4 GHz Cortex-A53 e 4x 1.1 GHz Cortex-A53), GPU Adreno 505 de 450 MHz, 2 GB de RAM e 32 GB de armazenamento flash, tela de 5 polegadas e sistema operacional Android 7.0.0 (Moto G5).
Console de videogame com 1 processador x86 8-core de 1,75 GHz, placa de vídeo Radeon, 8 GB de RAM, HD de 500 GB, sistema operacional Windows 10 virtualizado (Xbox One).
Console de videogame com 1 processador x86 8-core de 1,6 GHz, placa de vídeo Radeon, 8 GB de RAM GDDR5, HDs de 500 GB e 1 TB, sistema operacional Unix (PS4).
No final o que é importante para você? Especificações de hardware ou se divertir com seus jogos favoritos ou se comunicar com o smartphone? O processador, memória e disco foram os critérios de escolha do seu produto?
Alguns fabricantes de hardware para uso corporativo perceberam isso e colocam algo a mais no hardware ofertado, com camadas de software aplicativos, muito além da abordagem simplista de sistema integrado ou mesmo sistema hiperconvergente. Aliás, esses dois exemplos anteriores endereçam somente questões de infraestrutura, e não aplicações.
Appliances são Computadores?
A resposta é SIM! Todos os appliances acima possuem Processador, Memória, Armazenamento, Sistema Operacional. Seja um computador desktop, console de video game, um smartphone ou um servidor! Eles endereçam funcionalidade das aplicações que rodam nela, nunca ressaltam especificações de hardware.
Appliance Doméstico e o Appliance Corporativo
Vamos fazer um comparativo entre um appliance doméstico e corporativo, e descobrimos que eles tem mais em comum do que diferenças!
O domínio de certas plataformas
Uma palavra em moda é “Plataforma”, que indica um hardware (A parte menos importante), o “software de base” (Vulgarmente conhecido como sistema operacional), serviços de cloud (Muito importante hoje em dia, visto que tudo é on-line) e por último, e não menos importante, as aplicações!
Veja um exemplo de uma grande empresa de software (Hum, a parte mais importante!), que comprou uma empresa fabricante de celulares e colocou o sistema operacional dela nesses celulares. Ótimas especificações de hardware, um sistema operacional popular e um serviço de cloud associado. O fiasco foi enorme, simplesmente porque não tinha aplicações para essa plataforma de smartphone! Hoje o mundo de smartphones está dividido em duas plataformas, e o resto é resto.
Outro exemplo é o de consoles de video game. Atualmente (2018) estamos na oitava geração de consoles, e existem apenas 3 a 4 plataformas, mas pode-se dizer que apenas 2 dominam o mercado, e novamente por causa dos jogos (E das plataformas de desenvolvimento). Engraçado é que as 2 plataformas dominantes usam a mesma arquitetura básica de hardware e o que diferencia eles é de novo o software.
No mundo corporativo a domínio está na arquitetura x86 de hardware, e o mundo dividido entre Windows e Linux/Unix. O que diferencia é de novo software (Banco de Dados, Servidor de Aplicação e a Aplicação). Alguns fabricantes anunciam hardwares milagrosos, mas pouco fazem além de rodar um pouco mais rápido, trazer algumas funcionalidades, mas a custa de muito dinheiro.
O comprador de TI
Já reparou que os compradores das empresas enxergam os seus servidores da mesma maneira que o consumidor reclamão enxerga um pudim como sendo somente Ovo, Açúcar e Leite Condensado?
E também que os gerentes de TI especificam features que representam 20% da solução (processador, memória e disco), e se esquecem que eles vão rodar uma solução empresarial, e que precisam focar na aplicação.
Será que eles compram um PC genérico para seus filhos pequenos jogarem, ao invés de uma console de games mais fácil e focada em jogos?
Conclusão
Uma tendência mundial é de que teremos cada vez mais appliances especializados em toda TI. Já é de longa data que alguns equipamentos de rede e de telecomunicação são appliances baseados em componentes genéricos que rodam um software que dá a funcionalidade a eles.
Na área de armazenamento também vemos vários fabricantes que oferecem sistemas de armazenamento que nada mais são servidores genéricos feitos por componentes “commodities” rodando um software especializado em armazenamento.
No segmento de banco de dados e aplicações, existem poucas ofertas que tenham uma plataforma completa e integrada com sistema operacional, virtualizador, banco de dados, servidor de aplicação e aplicações de negócio, com uma interface fácil e amigável, exatamente como se fosse um console de videogame corporativo!
Cuidado com os fabricantes “falsos milagreiros”, pois o que sempre dizem é que “Temos o melhor hardware para sua aplicação”, ou seja, não oferecem nada além de ovo, açúcar e leite condensado gourmet.
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